Durante os últimos três anos, nós, Gabriel e Sofia, estudamos o tema do ativismo digital. Na sétima oficina de 2020, fomos convidados a apresentar sobre nossa pesquisa e levamos a discussão sobre as plataformas digitais e seu uso na contemporaneidade. Para discutir esse tema, considerávamos importante falar sobre a construção de relações entre ativistas, as potencialidades das tecnologias digitais, os riscos de utilizar plataformas comerciais para o ativismo e exemplos de uso.
Quem acompanha este blog e as atividades do PEP, sabe que o PEP é um Programa de Estudos e Pesquisa, mas não somente. No PEP, compreendemos a importância do estudo de textos científicos e da realização de pesquisas como meio de desenvolvimento humano. Contudo, ser um bom aluno e produzir pesquisas de boa qualidade técnica é condição necessária – porém insuficiente – para o desenvolvimento, uma vez que o próprio processo de crescimento individual envolve entender e refletir sobre a liderança, buscando exercê-la em algum nível.
Essa perspectiva sobre o processo de pesquisa pode ser percebida nas pesquisas do PEP, que não relatam apenas avanços teóricos, mas trazem contribuições práticas e ligadas à realidade em que vivemos. O senso de responsabilidade para com a Universidade pública estimulado por Mestre Rohm também atravessa as práticas e pesquisas do PEP, não apenas nas temáticas, mas no próprio desenvolvimento dos estudantes para que nós, no mínimo, levemos essa oportunidade a sério e busquemos agir de forma a demonstrar gratidão por ela.
Em outras palavras, o aprendizado teórico direciona a nossa prática no dia a dia e aumenta a qualidade de nossa intervenção no mundo, mas ele não se basta, uma vez que a transformação só se dá por meio da ação concreta. Para dar um exemplo prático no contexto da Administração na UFRJ, podemos citar o lugar comum no qual caem os iniciantes na pesquisa científica: ler demais e escrever pouco ou nada. Outros exemplos: dizer-se preocupado com agroecologia, mas não fazer parte sequer da horta da UFRJ; se dizer preocupado com política, mas nem fazer parte dos movimentos estudantis da universidade. Às vezes, essas mesmas pessoas estão dedicando seu tempo de forma quase exclusiva a empresas juniores ou estágios em multinacionais, o que é ainda mais questionável quando se trata de estudantes de uma universidade pública.
Nesta oficina, ao refletir sobre o atual cenário nacional e o contexto ameaçador à Universidade pública, pudemos compreender melhor a partir das explicações de Mestre Rohm a diferença entre eficiência e eficácia. Enquanto que a busca pela eficiência depende da observância rígida de normas, a eficácia se guia por outras premissas, dando origem a ações estratégicas e compatíveis com o tempo disponível e a gravidade da situação.
A eficiência não pode ser pretexto para a inação, uma vez que “o fazer do ensinamento reside sempre na sabedoria de não deixar de fazer”. Assim, é fundamental que nos desprendamos da busca pela perfeição, sobretudo em situações tão graves quanto a atual, alinhando-nos ao caminho que leva à excelência e passa, invariavelmente, por erros e falhas.
Ganham destaque neste caminho alguns ensinamentos que retomamos do Seminário de Desenvolvimento Humano 2020: a determinação, que oferece energia para superar os desafios e seguir em frente em busca de um objetivo no longo prazo; a disciplina, que traz o foco sempre de volta para o caminho, perseverando em um projeto de vida apesar de obstáculos ou sucessos parciais; e a resiliência, que traz a flexibilidade necessária aos aprendizados constantes que derivam das adversidades inerentes à jornada.
Consideramos importante destacar neste ponto o risco de usar as tecnologias digitais em um contexto em que as pessoas não tenham determinação, disciplina, resiliência nem propósito, e podem acabar tendo sua atenção desviada para coisas sem importância. Ao invés de voltar-se para o longo prazo, podemos nos perder em minúcias que drenam nossa energia e desviam o foco da ação por conta do imediatismo e da ausência de reflexão sobre o papel das partes na formação de um todo, e, neste caso, do nosso impacto no mundo.
Mas então, o que fazer? Como agir? Como contribuir para a comunidade (do prédio, da turma da faculdade, do bairro)?
Você, leitor ou leitora que estava presente na oficina: como essa discussão se mostra presente para você? Ela repercutiu? O que você pensou a partir da leitura desse texto ou pode compartilhar com a gente a partir das suas reflexões?
E você, leitor ou leitora que não participou da oficina? Como você tem levado para a prática suas reflexões sobre tornar-se uma pessoa melhor? Quais comportamentos tem mudado? Quais novos hábitos tem adotado? Tem sugestão de algo que não tenhamos abordado nesse texto?
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