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Programa de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Humano, Formação de Lideranças Transformadoras e Governança Social
Eponina, Ernesto Nazareth

Depoimento

Depoimentos

Depoimento de Tarsila Ribeiro

Não é difícil mencionar as pessoas que deram forma ao que fiz e faço durante minha trajetória acadêmico-profissional. Também não é difícil descrever a contribuição de cada uma delas. Afinal, acostumamo-nos a acreditar que a condição sine qua non para existência de uma trajetória é justamente poder contar o que e como se fez alguma coisa: existe uma trajetória quando tudo está organizado em torno do que aconteceu, do que passou e, portanto, do que já está acabado em algum lugar do passado. Porém, o exercício se torna mais difícil quando essas pessoas ainda são responsáveis pelos diferentes movimentos que animam o presente de uma trajetória, reverberando em todos os passos que estão sendo dados no caminho. Isso porque a vida não se encerra em uma linha reta, dura, feita de segmentos bem determinados (ou molares, como diria o poeta que você me apresentou), em que tudo que se pode viver obedece a uma preordenação essencial daquilo que nossos desejos são capazes de demarcar. Para além de uma vida que se encerre em minhas próprias demarcações (graduação, pós-graduação lato/stricto sensu, docência), então, cedo ao doce exercício de expressar os fluxos da nossa relação que, para mim, escapam (e muito) dessa segmentaridade, apesar de poder ser observada nela. Afinal, “a vida é a arte do encontro”, como diria outro poeta, talvez, porque o que realmente existe e perdura não está feito, acabado, formado, mas em constante (trans)formação. “Anywhere is”. Vamos ao que pode ser observado, então! Foi no primeiro semestre de 2011, último ano da minha formação. Como a disciplina que você ministrava era noturna, saía do estágio, saltava do ônibus e, na entrada do campus – atrasada, repassava o texto da aula ao mesmo tempo em que comia um croissant de ricota com ervas finas, no Asterius. Em seguida, subia as escadas do anexo do CFCH e, junto aos textos que compunham a sólida apostila dessa disciplina, carregava comigo algumas ideias preliminares do desafio que estava por vir. Quando entrava em sala de aula – ainda mais atrasada, você estava lá para confirmar que a razão de existir de uma profissão deve estar no enfrentamento do desafio de ser um instrumento de transformação social. Mais tarde, durante as aulas da especialização, com você (agora, sob sua orientação formal) pude compreender a complexidade do desafio e, a partir daqui, a psicologia não poderia mais fazer, sozinha, todo o trabalho referente à complexidade humana nas organizações. Hoje, em que pesem os “inenarráveis” e saudosos encontros que não temos mais em sala de aula, observo em um registro mais recente que nossos debates ainda reverberam em todos os passos que dou no caminho de uma prática profissional livre, crítica e construtiva. Veja você, arco-íris ganhou cor e com você também pude compreender que, para além do que dizemos que a liderança é (deve ser ou fazer), liderança é o que fazemos que ela seja. Enfim, despeço-me aqui. Porém, como nem tudo que existe que pode ser observado, sempre existe mais: nada está acabado nos encontros que tivemos, nos que temos e ainda teremos. Temos muito ainda por fazer. Muito obrigada, Mestre Rohm – meu professor, para sempre.

Tarsila Ribeiro

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