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DESENVOLVIMENTO HUMANO, FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS TRANSFORMADORAS E GOVERNANÇA SOCIAL
Minerva UFRJ 2021

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MATRIX e a maioridade

Observa-se na crise civilizatória contemporânea um sem-número de escolhas realizadas por adultos que desconhecem qualquer sentido de responsabilidade individual ou mesmo coletiva, que ignoram qualquer ponderação de ordem ética, ocasionando disfunções sociais, organizacionais e iniquidades econômicas. Desconsideram a própria noção de coletividade antes pautada por uma compreensão mais humanista, ou seja, cujos valores de justiça,…

MATRIX e a maioridade

Observa-se na crise civilizatória contemporânea um sem-número de escolhas realizadas por adultos que desconhecem qualquer sentido de responsabilidade individual ou mesmo coletiva, que ignoram qualquer ponderação de ordem ética, ocasionando disfunções sociais, organizacionais e iniquidades econômicas. Desconsideram a própria noção de coletividade antes pautada por uma compreensão mais humanista, ou seja, cujos valores de justiça, compaixão, beleza e bondade ainda eram cultivados na formação de seres sociais e políticos, antes e depois dos 21 anos completos.

São inúmeras hoje as lideranças descompromissadas com o bem comum e com o próprio ordenamento jurídico institucional – conquistas civilizatórias alcançadas por meio de muita luta e a duras penas! – a tomarem decisões que afetam milhares e milhões de pessoas e o atual arranjo e gestão das tecnologias digitais e de comunicação, em pleno século XXI, não possibilitam um efetivo controle da sociedade sobre boa parte destes ” adultos especiais” do nosso tempo. Talvez tornar-se adulto esteja gradativamente assumindo uma conotação de corrosão do caráter e extinção da empatia, desconstruindo elementos essenciais ao estabelecimento de vínculos sociais humanistas e saudáveis.

Mas escrevo hoje, mais especialmente, acerca de um ente complexo, amplo e bastante onipresente ao completar seus 21 anos e supostamente adentrar sua própria maioridade: a Matrix. Em 1999, quase na virada do milênio, as Wachowiski lançavam a primeira obra de sua trilogia cinematográfica a qual se tornaria um marco estético e também crítico da Sétima Arte. Nenhum filme de ação e de ficção científica, entre outros gêneros posteriormente produzidos, escapou direta ou indiretamente das inovações tecnológicas, estéticas e mesmo da questão semiótica que atravessou a trilogia, iniciada pela mundividência segundo a qual todos os humanos nada mais seriam do que pilhas a abastecerem uma entidade totalitária, maquínica, digitalizada e virtualizada, intitulada Matrix. Artigos, debates, livros acadêmicos, festivais de cinema, muitos foram os fóruns e as mídias a problematizarem um mundo distópico, controlado por máquinas, por softwares e pela promessa virtualmente vivida por personagens essenciais num círculo aparentemente infinito de busca pela emancipação, pelo encontro do propósito da vida em si mesma.

A maioridade aqui neste caso enseja uma dinâmica talvez esperada mas cujas metáforas exigirão um pouco mais de cuidado: enquanto a Matrix no cinema se nutria da energia produzida por seres humanos para as máquinas, na Matrix da “pós realidade” “pós verdade” e ” da talvez pós pandemia” da vida 3.0, 5G, AI, algorítimos, machine learning, plataformas e oligopólios do capitalismo de vigilância, os seres antes humanos parecem ter se tornado, em sua maioria, geradores de dados a alimentarem esta Matrix todo o tempo – e não raras vezes buscando exibirem suas melhores imagens, papéis sociais pré fabricados, no rastro do “fast thinking”.

E como ocorre na saga da trilogia, brilhantemente concebida e realizada, na Matrix da maioridade muitos humanos ainda resistem e buscam formas e brechas de ressignificarem seus dispositivos e processos, seu modelo e ferramentas, suas organizações totalitárias e micro disciplinares. Todavia, pela educação, pelo resgate do humanismo, pelo conhecimento de ponta, inovador e destas mesmas tecnologias – mas revendo seus objetivos e impactos -,pelo resgate do papel dos Estados Nacionais e de outras Instituições que possam regular tantos entes disfuncionais, físicos ou jurídicos, virtuais ou não, ainda permanecem nossos o desafio e o prazer de escolhermos finais diferentes, preferencialmente mais felizes, para nossa História, porque esta não é nem deverá ser definitivamente um mero roteiro de cinema.

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    Ricardo Rohm #3

    Que tenhamos disciplina para fazer o que é necessário e não aquilo que nos convém.

15 respostas

  1. Avatar de Marcelo Canesin

    Brilhante! O senso de responsabilidade individual é muitas vezes deixado de lado, como se não houvessem outras possibilidades dentro da realidade que vivemos, como se não fosse possível fazer nada perante o mal que nos assombra. Um sem número de acertos, podem ser evidenciados na obra genial das irmãs Wachowiski, sem contar a estética magnífica que nasceu ali, quantos mil filmes já não beberam em Matrix? Vamos precisar vencer essas máquinas que invadem o nosso sistema, dominar a tecnologia para garantir que a justiça social seja feita, a solidariedade caia nas graças do povo, e a sustentabilidade condene o nosso desenvolvimento. Que as nossas mãos estejam sempre munidas com a arma principal: o humano que há em nossos corações!

  2. Avatar de Sofia Xavier

    Mestre, muito obrigada pelas reflexões tão necessárias acerca deste marco histórico que foi Matrix! Pensar o rastro de dados que deixamos nas plataformas online em que transitamos como o alimento que dá vida à esta Matrix em que vivemos hoje nos implica um senso de responsabilidade ainda maior do que apenas parar de contribuir para este sistema: é necessário o uso das plataformas online para aquilo que emancipa a todos nós, que nos oferece a possibilidade de humanização. Percebo, portanto, a importância e a relevância das pesquisas realizadas no PEP que visam contribuir para tal fim, revelando de que forma estes espaços podem ser ocupados para fins emancipadores, mostrando como a prática do ativismo pode ser transportada para estes meios. Viver dentro da Matrix não pode ser suficiente, acordar sozinho dentro dela tampouco, e agir no mundo de forma a oferecer outras possibilidades para gerações futuras se torna nosso dever. Agradeço, portanto, a Mestre Rohm, que me proporciona a ocasião para isso.

  3. Avatar de Claudia Gonçalves

    Seu texto é brilhante e absolutamente necessário nestes tempos em que, como você bem destaca, os valores humanos fundamentais para a educação e o entendimento de vida como parte de um coletivo parecem estar cada vez menos em evidência.
    Visionárias também o foram em “Matrix” (e continuam sendo…) as irmãs Wachowski, por vislumbrarem esse mundo em que os humanos, ainda hoje, continuam fornecendo sua energia vital para a manutenção do capitalismo, agora em sua versão de vigilância, além dos seus dados em larga escala.
    O grande problema jaz em, além de fornecer energia e dados, não perceber criticamente fazer parte desta teia contribuindo para a sua manutenção. É aí que pessoas como as irmãs Wachowski e como você fazem toda a diferença. No seu caso, com o trabalho cotidiano e incansável de desenvolver o pensamento crítico e de nos fazer perceber as manipulações exercidas pela Matrix.
    E você conclui o seu texto (temporariamente neste espaço…), como é peculiar a você, nos (re)lembrando da opção pela “pílula vermelha” (elemento metafórico utilizado no filme para que fosse possível perceber o que de fato acontecia no mundo), pelo despertar, pelo reconhecimento de que podemos retomar o controle das nossas vidas a qualquer tempo, fazendo a diferença e alimentando a esperança de que um outro jeito de viver em um mundo que resgate os valores humanistas é possível e urgente.

  4. Avatar de Gabriel Valuano

    Mestre Rohm nos presenteia com um convite à reflexão sobre a Matrix e a maioridade neste texto, mas não somente. Faz deste um produto que materializa em palavras escritas aquelas reflexões e propostas de desenvolvimento humano de cada dia, que assumem formas específicas e distintas entre si, a depender dos contextos, mas em versões cada vez melhores, com o intuito de nos preparar e mobilizar ao enfrentamento de dilemas e desafios que são interligados e dizem respeito à esfera individual e coletiva: ao todo. É sobre a totalidade que a Matrix representa enquanto conjunto de forças que operam elementos diversos, dentre esses, nós, indivíduos, e nossas relações com o mundo. Situa-nos no desafio que se faz constante para quem se propõe ao desenvolvimento para melhorar enquanto individuo e a contribuir para um mundo mais humanizado. Em um sistema de dominação tão minuciosamente elaborado, conservado dia-a-dia por meio de uma violência perversa que nos faz adoecer enquanto humanidade, faz-se urgente compreender as causas de tais sintomas e também quais são os seus remédios cotidianos que nos direcionarão para um horizonte em que a História seja diferente desse roteiro já conhecido e tão cruel. Uma organização de pessoas como o PEP-Rohm, com seu propósito comunal de desenvolvimento humano pela formação e para a emancipação individual e coletiva é o caminho revolucionário que nos traz o otimismo da esperança para vencer este desafio tão árduo. Obrigado, Mestre Rohm, pela construção diária desse caminho de despertares para a responsabilidade que cada um de nós carrega enquanto indivíduo dentro dessa Matrix!

  5. Avatar de Lucas Rocha

    Brilhante, mestre! Vemos hoje uma crise de lideranças na qual está pautada no sucesso como sinônimo de riqueza monetária, sem a preocupação com o outro, perdidas em seu narcisismo e na vaidade da ilusão do sucesso ao se olharem no espelho. Muito bem lembrado trazer essa data histórica de Matrix das irmãs Wachowski na qual são sempre lembradas em suas aulas e nos permitem a reflexão acerca das instituições presentes na sociedade e de que forma nós, lideranças e, mais que isso, humanos podemos agir de forma que essa -triste- realidade possa ser transformada. Sempre quando penso em Matrix, lembro de uma frase discutida em sala de aula com o senhor: “Se você não está no controle do seu corpo, alguém ou alguma coisa está”. Por que será que a internet se tornara um espaço no qual pessoas (ou avatares?) formaram um padrão no qual todos buscam passar sua boa imagem? Qual a finalidade disso? Quem/ o que está no controle? Muita gratidão ao senhor, como liderança e um grande ser, e ao PEP-ROHM por ser um espaço onde discussões como essa são levantadas e que inspiram e transformam a vida de seus alunos e todos aqueles a sua volta.

  6. Avatar de Anderson Penavilla

    Mestre, obrigado pelo texto! Quase sempre me pergunto qual foi a pílula da Matrix que eu tomei?

  7. Avatar de José Martins

    “Talvez tornar-se adulto esteja gradativamente assumindo uma conotação de corrosão do caráter e extinção da empatia, desconstruindo elementos essenciais ao estabelecimento de vínculos sociais humanistas e saudáveis.”
    É muito importante que sejamos capazes de diagnosticar e entender o cenário atual e não desanimar perante a ele. É isso que o senhor faz, Rohm, há anos como professor e Mestre, escolhendo estar na UFRJ e se dedicando ao PEP. A existência da força contrária, aqueles que nadam contra a maré que a Matrix em que vivemos nos condiciona e essencial para a perpetuação e sobrevivência de valores humanistas, pautados na justiça, compaixão, beleza e bondade! O senhor é isso, exemplo vivo de integridade e excelência, e nos ensina isso todos os dias, para que seu legado de multiplique e possamos também ser essas forças que nadam contra a maré obscura que vem se espalhando por diversas esferas da nossa sociedade.
    Relembrar e celebrar aqui essa obra prima das irmãs Wachowiski é imprescindível para pensar o agora (a obra em si já estava afrente do seu tempo quando foi lançada…) e refletir sobre as escolhas que fazemos em nosso cotidiano. O primeiro passo é se perceber dentro da Matrix, em seguida é agir para liberta-se dela e, depois, libertar os outros! A tomada de consciência é fundamental e é, intencionalmente, bloqueada pela própria Matrix. Faço aqui um agradecimento ao senho e ao PEP por me possibilitar diariamente o exercício do questionamento sobre mim e sobre as coisas ao meu redor, e aflorar em mim o senso de coletividade, orientado para a justiça social e a ação concreta no aqui e agora.

  8. Avatar de Moisés Guimarães

    O texto brilhantemente escrito pelo prof. da Facc, Ricardo Henri Dias Rohm, nos leva a refletir os impactos que a MATRIX tem causado na vida das pessoas. Num mundo tão virtualizado como o atual, as relações de valores também são prejudicadas e portanto, precisam ser reordenadas antes que seja tarde demais. Quando não se gera uma empatia ao outro, o que prevalece é o individualismo e com ele, toda a saga e sede de sistemas econômicos (o capitalismo é um deles) que coopitam esses seres que ainda na “maioridade” não conseguem lidar com aquilo que diz respeito a coletividade, aos valores humanísticos, por isso a necessidade, como bem disse o mestre-autor, em rever os objetivos e impactos desses mesmos algoritmos e sistemas de captura que robotizam pessoas e as desumanizam. Neste sentido, as instituições de ensino (seus docentes, sérios e comprometidos) têm um papel fundamental de capacitar pessoas a fim de torná-las capazes de transformar a realidade e serem mais críticas – sobretudo – com as armadilhas dos usos abusivos de novas tecnologias digitais.

  9. Avatar de Gabriela Costa

    Obrigada Mestre, por sempre nos convidar a refletir sobre questões tão necessárias à expansão da nossa consciência, em prol de agirmos e trabalharmos nas nossas escolhas e decisões diárias, sem deixar de acreditar na possibilidade de realização das transformações que a sociedade tanto precisa. Na Matrix, as pessoas aprendem a ser individualistas, o sistema não abre espaço para a tomada de consciência e para a valorização da responsabilidade individual e coletiva. As pessoas sobrevivem com a ilusão de que estão ganhando algo, de que estão tomando alguma vantagem ao pensar apenas em si. Quando o que acontece é que hoje com as TIC e o capitalismo de vigilância as pessoas são cada vez mais exploradas e isoladas de si, do outro e da vida. Nas redes, a verdade é inventada, manipulada. Mas é necessário voltarmos a buscar a beleza da espontaneidade, da imperfeição e principalmente da superação, porque não há nas ilusões, no egoísmo. Mesmo que o sistema não abra espaço para a tomada e a expansão de consciência, muito obrigada, por nos inspirar e orientar a buscar as brechas e resistir ao controle, e por nos permitir tantas oportunidades de desenvolvimento, para a nossa humanização, e a do mundo. ❤️🙏

  10. Avatar de Felipe Tinoco

    É aproveitando o ensejo do dia dos professores que parabenizo Mestre Rohm duplamente: primeiro por ser este exemplo de liderança a ser seguida que tanto inspira a tantas pessoas pepianas, alunas, e por quem mais cruze seu caminho e apreenda, e aprenda, e tanta coisa… de tanta coisa! Segundo pois mais uma vez nos traz uma contemplação – ora artística, ora filosófica, ora com ambos aspectos sob meu olhar – de uma obra importantíssima, profética e reveladora daquilo que hoje somos… Muito bom, Mestre! Que continue potente para nos desvendar cada plug dessa Matrix. Que continuemos atentos para que saibamos ouvi-lo e escutá-lo da forma mais agregadora. Beijos!

  11. Avatar de Anderson Penavilla

    Mestre como sempre nos brindando com excelentes textos! Obrigado Mestre por nos proporcionar isso. Obrigado por nos aclarar desta Matrix que aparece todos os dias conosco, nos robotizando e conduzindo ao mundo do parecer ter e ser. Um mundo da Matrix em que os padrões estabelecidos são aqueles que nos afastam cada vez mais de nossas emoções e sentimentos, e nos conduzem como robôs para a total falta de empatia e respeito com o próximo. Assim como no filme, Mestre chega para nos ensinar de que temos dois caminhos: a continuidade do mundo da Matrix e assim continuar como uma roldana da máquina ou se rebelar deste sistema e não ser apenas um repetidor de comportamentos, como parecer ser feliz, fazer gestão da imagem ou reverberar aquilo dito pelos opressores e donos da Matrix. Obrigado por este conhecimento, e é este conhecimento que nos liberta!

  12. Avatar de Marcelo Filho

    Prof. Dr. Rohm,
    lendo seu texto algumas vezes, exercitei o pensamento de que não basta apenas ressignificar ferramentas, dispositivos, processos e modelos de aparência, ainda que elas sejam maduras. Se a Matrix com a qual convivo em mim é bem-sucedida em irrigar exemplos de mau-caráter em mim, ressignificar minha vivência na vida será um passo predecessor de me atentar com quem ou com o quê eu estarei em observação e em companhia, após as ferramentas serem ressignificadas. Muito possivelmente, estarei diante de um espaço de ausência, onde nem mesmo persistirá o significado incompleto de sentimentos e valores virtuosos que eu já conheci. Considerando que viver em sociedade não consiste em viver na ausência do outro, entendo que, em mim, o que há para ser nutrido eu não descobrirei sozinho. Cada um de nós é interdependente ao mundo para se tornar maduro e avançar o que há de melhor em nós (o que jamais poderá ser uma ferramenta, que ganha potência até onde interessar aos interesses por detrás das limitações de nossa época).

  13. Avatar de Bruno Reis

    Mestre, o senhor, brilhantemente, sintetizou em cinco parágrafos os principais desafios da atualidade: falta de reponsabilidade coletiva, descompromisso das lideranças, maioridade descasada de avanço humano e enfraquecimento dos Estados Nacionais e das instituições. Não à toa estamos envoltos nessa pandemia, sem data certa para acabar. Matrix, Blade Runner, Equilibrium, o Dilema das Redes… Podemos abordar o momento atual por qualquer um desses enredos. Que possamos refletir acerca de nossos próximos passos e propósitos enquanto seres humanos de carne e osso.

  14. Avatar de Elizabeth Coelho

    Obrigada pela bela mensagem! Há uma esperança, então: “ainda permanecem nossos, o desafio e o prazer de escolhermos finais diferentes”. Podemos aceitar o convite que nos é feito por Neo em Matrix e decolar rumo a um mundo “onde tudo é possível”!

  15. Avatar de William Freire

    O cuidado da escrita do texto me provoca a refletir sobre a dimensão e urgência da crise que nos encontramos, assim como traz luz e foco para olhar a nossa realidade.

    O texto não trata apenas de gerar essa provocação e reflexão, mas também é, de forma poética, uma pílula vermelha, que assim como no primeiro filme da trilogia, vai revelando os apectos da realidade que devemos tomar ciência.

    Primeiramente entender que estamos numa crise é fundamental e aceitar que estamos num mundo com desafios grandes e pequenos. Na obra, o personagem Neo, assim como outros, tem essa dificuldade de aceitar essa realidade. Como podemos aceitar que o mundo está pior do que queremos ver quando nossos privilégios permitem que sejamos poupados de mais sofrimento? Mais ainda, como podemos aceitar que também somos co-responsáveis dentro dessa realidade, uma vez que nossos privilégios são mantidos pela exploração de muitos outras pessoas?

    Na verdade, não entendo que seja uma questão de aceitação, mas de uma compreensão ética e também civilizatória, na qual o coletivo e as instituições coloboram em prol das diferentes dimensões existentes humanas e não humanas.

    A Matrix se vale das ilusões de mundo aparentemente real, e das formas de controle sistemáticas das pessoas. Assim, outra reflexão a partir do texto em relação a esse ponto seria a alimentação do sistema pela humanidade com seus dados, uma grande quantidade de dados: as pessoas se iludem em suas redes sociais, enquanto entregam informações importantes e pessoais, deixando de lado privacidade e constituindo subjetividades aprisionadas nas ilusões estéticas e modos de viver longe da política e, portanto, da esfera de decisão e ação que impacta a vida das pessoas, abrindo mão da responsabilidade e muito mais, dos próprios direitos conquistaados historicamente a custo de muitas vidas e trabalho.

    De fato, o trabalho de educação exigido para essa crise requer humanidade, senso crítico, empatia e a construção de um coletivo como elementos essenciais, pois o projeto de um propósito se dá no coletivo. Tomar a pílula vermelha é abrir os olhos para realidades antes encobertas, e vai exigir força, coragem e aprendizagem das próprias emoções.

    Na obra de Matrix, os personagens nos lembram que a perseverança no propósito se dá por escolher estar nesse lugar. Uma escolha de um futuro melhor possível. Uma escolha ética. Uma escolha de esperança.

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