PROGRAMA DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
DESENVOLVIMENTO HUMANO, FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS TRANSFORMADORAS E GOVERNANÇA SOCIAL
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Liderar em tempos de pandemia: notas sobre o movimento estudantil

No texto em que dialogam sobre a relação entre a liderança e o trabalho uberizado nos dias de hoje, Gabriel e Gabriela finalizam sua reflexão falando sobre a importância da ação de lideranças formadas em universidades públicas tendo em vista o seu dever perante o investimento recebido pelo seu povo. Na defesa de valores éticos…

Liderar em tempos de pandemia: notas sobre o movimento estudantil

No texto em que dialogam sobre a relação entre a liderança e o trabalho uberizado nos dias de hoje, Gabriel e Gabriela finalizam sua reflexão falando sobre a importância da ação de lideranças formadas em universidades públicas tendo em vista o seu dever perante o investimento recebido pelo seu povo. Na defesa de valores éticos e humanistas, essas lideranças têm por objetivo promover um acesso mais amplo a direitos básicos e estimular a participação política consistente, de maneira que todos tenham a chance de lutar por uma vida digna. Enquanto no texto sobre a precarização do trabalho vê-se a apropriação e uso das novas tecnologias digitais para fins de exploração e privação de direitos das pessoas, aqui a proposta é discutir e pensar os usos das novas tecnologias pelas lideranças com o objetivo de promover direitos e responder a esse desafio.

No atual cenário, em que crises se sobrepõem, torna-se ainda mais evidente a relevância de lideranças nos mais diversos espaços e organizações da sociedade. Consideramos liderança nesse texto como o ato de transformar padrões sociais para construir um ambiente receptivo à diversidade humana, no qual se criam relações mais justas e inclusivas. Para alcançar seus objetivos, líderes podem e devem utilizar-se de diversos meios e ferramentas, inclusive as novas tecnologias digitais, mais amplamente difundidas entre as pessoas jovens.

Na reflexão que propomos hoje, optamos por olhar para a nossa própria realidade atual como membros do movimento estudantil brasileiro, observando como se tem atuado em meio à pandemia da Covid-19 com relação às tecnologias digitais. Os estudantes em certa medida já estão, desde antes da pandemia, inseridos nesse mundo digital, usando as redes sociais para a comunicação. Com a pandemia e a insegurança relativa aos efeitos e cuidados necessários para a prevenção da contaminação pelo vírus, muitas atividades que antes eram feitas de modo presencial passaram a ser executadas virtualmente, como o caso de plenárias, reuniões, congressos e atos culturais. Isso fez com que as tecnologias digitais, que já eram bastante usadas, se tornassem ainda mais presentes.

É importante destacar que o Brasil é um país em que 46 milhões de pessoas não possuem acesso à internet. Além dos empecilhos tecnológicos, a desigualdade socioeconômica sempre gerou dificuldades para o ingresso no ensino superior, o acompanhamento de aulas e a permanência na universidade. A desigualdade tornou-se ainda mais explícita durante o período de ensino remoto devido à exclusão digital, virando uma das principais pautas atuais do movimento estudantil. É necessário, então, lidar com essa realidade para garantir o próprio acesso à educação superior, principalmente para os estudantes mais vulneráveis. Frente a essas dificuldades, a liderança estudantil tem se mobilizado para assegurar os direitos dos estudantes nesse período excepcional de aulas remotas, promovendo a sua representação nos conselhos superiores e departamentos da Universidade, além de lutar por acesso à internet e tecnologias por meio de um auxílio digital que permita o acompanhamento das atividades letivas.

O ensino remoto foi colocado como um paliativo diante das condições da pandemia no país. É notável, porém, a insustentabilidade desta solução insatisfatória por qualquer período de tempo além do estritamente necessário. O investimento de recursos na educação pública superior é fundamental para garantir que o trabalho de todo o corpo social das universidades possa continuar a promover, cada vez mais, o desenvolvimento científico voltado para o interesse público. As universidades públicas oferecem soluções para a própria crise sanitária vivida atualmente, desde a produção de respiradores e testes rápidos mais baratos, pesquisas relacionadas à nova doença, o desenvolvimento de vacinas, a produção e distribuição de álcool em gel, a existência de projetos de extensão com o fim de divulgar medidas de biossegurança efetivas etc.

Ainda que o uso das tecnologias digitais ofereça formas de driblar a necessidade de distanciamento social, essas ferramentas não são capazes de substituir a interação presencial. A sensação de estímulo a participar de um evento ou a criação de laços afetivos entre os participantes do movimento ficam prejudicadas. Embora nenhuma dessas limitações impeça a criação de espaços de deliberação e tomada de decisão, em alguns casos, eles tornam-se mecânicos e perdem na sua capacidade de gerar conexões entre os participantes. Atividades de coletivos sociais, por exemplo, ficam prejudicadas porque dependem das relações afetivas criadas entre os membros que defendem mais direitos para estudantes de certos segmentos dentro da universidade.

Os estudantes conhecem a importância do ensino presencial e dos espaços de encontro da comunidade acadêmica, desde as trocas e conversas informais pelos corredores dos prédios até as palestras, workshops e festivais promovidos pela própria universidade, por professores ou alunos. Além de esses espaços presenciais serem mais democráticos, eles abrem margem para a criatividade nas trocas e construções coletivas de soluções dos problemas do país. A universidade e o próprio movimento estudantil dependem dessa convivência, que é a força motriz da sua manutenção e desenvolvimento.

A fim de defender todos esses direitos, o movimento estudantil está atento à importância de se fazer mais presente nas ruas: distribuição de EPI para manifestantes em atos presenciais, atividades de panfletagem, colação de lambes e espaços de conversa na rua com a população são algumas das atividades presenciais que o movimento estudantil tem desenvolvido ao longo dos últimos meses, sempre tendo em mente os cuidados sanitários necessários.

A liderança no movimento estudantil fica distribuída em diversos níveis e tipos de organização, permitindo que sejam articulados objetivos amplos e ações práticas capilarizadas por diversas entidades estudantis. Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE), Centros e Diretórios Acadêmicos (CA e DA), entidades de representação nacional e regional dos estudantes como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e as Uniões Estaduais de Estudantes (UEE), os coletivos sociais e político-partidários, todos têm um papel no debate, construção e prática dos valores compartilhados pelo movimento estudantil. Em meio à pandemia da Covid-19, essas lideranças fizeram amplo uso das tecnologias digitais para impedir que os espaços de manutenção e desenvolvimento de suas discussões fossem perdidos, sem perder de vista a necessidade de realizar atividades presenciais, quando preciso, com o fim de democratizar esses espaços.

Essas entidades históricas já passaram por diversas gerações de estudantes e continua a enfrentar desafios para a construção de um projeto de educação que atenda o país. Panfletos, jornais, cartazes, faixas, broches, adesivos, periódicos e megafones sempre foram instrumentos presentes na luta. Hoje, eles se somam às redes sociais e demais tecnologias digitais de maneira estratégica como possibilidades para a comunicação, tanto dentro do próprio movimento, cumprindo uma função organizativa, como fora dele, externando as demandas do coletivo.

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  • Inspiração:
    Ricardo Rohm #2

    Inteligência é ser capaz de transitar no holismo, na diversidade, e criar inusitadas e surpreendentes conexões, é perceber com a disciplina do olhar e se expressar na disciplina do agir grato, ético e generoso.

Uma resposta

  1. Avatar de Marcelo Canesin

    A pandemia serve para percebermos como é péssimo transformar o ensino presencial em online… perder o contato humano enfraquece o potencial de qualquer organização no desenvolvimento de atividades em conjunto e não deve ser aceita sobre nenhuma hipótese como substituta. Resta a resistência para tratar desse amontoado de problemas que se sobrepõem. Logo isso tudo vai passar e vamos nos levantar mais fortes do que nunca. A quantidade de problemas jamais foi um limite para o surgimento de lideranças transformadoras e não será dessa vez que os desafios irão superar a luta. O movimento estudantil tem de prosperar, custe o que custar!!

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