Resumo:
Nos últimos anos, o capitalismo mudou drasticamente. A sustentabilidade do longo prazo deu lugar aos resultados de curto prazo; a segurança cedeu espaço ao risco. Ao contrário da modernidade, onde o excesso de segurança dava lugar a uma escassez da liberdade, nossa sociedade valoriza uma espécie de liberdade que tolera uma segurança individual pequena demais – daí temos os mal-estares da pós-modernidade (BAUMAN, 1998). Nesse cenário, o novo capitalismo, o “capitalismo flexível”, encontra território fecundo para seu desenvolvimento. Segundo Sennett (2001), um dos aspectos menos abordados do “capitalismo flexível” manifesta-se em suas implicações no caráter pessoal. Para o autor, valores como lealdade, confiança, compromisso mútuo e cooperação nas equipes de trabalho são substituídos pelo distanciamento e pela cooperação superficial, por representarem uma blindagem melhor para se lidar com essa nova realidade, onde prevalecem a desconfiança e a ansiedade geradas pela falta de segurança. No “capitalismo flexível”, não somente pensamentos e atitudes devem flexibilizar-se, mas, antes disso, como base sustentadora, o próprio caráter e a integridade são flexibilizados. A desconfiança, a superficialidade nas relações e a deslealdade que permeiam as culturas organizacionais se desdobram no enfraquecimento das equipes de trabalho, assim como o tratamento desigual leva à diminuição da motivação dos empregados. Por conseguinte, levantamos as hipóteses de que há também queda de comprometimento bem como de produtividade. A presente pesquisa busca compreender de que forma a ausência de caráter, ou sua precarização se relacionam com o comprometimento, a motivação e, por fim, à diminuição da produtividade das pessoas, das equipes de trabalho e de práticas estratégicas de recursos humanos, tais quais gestão do conhecimento, gerenciamento de talentos e gestão por competências (ROCHA-PINTO et al., 2007). Através de pesquisa qualitativa em profundidade com profissionais de administração, buscar-se-á analisar essas relações, para que se possa compreender de que formas a falta de caráter é um obstáculo para a liderança efetiva, para o pleno desenvolvimento da pessoa na organização e de que maneira ela pode ser enfrentada.
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