A arte, forma absoluta de resistência em todos os tempos, fonte de inspiração e esperança para todos. Tratemos dela em sua forma cinematográfica!
Joker é um filme que pode ser analisado em muitos aspectos. Pode ser visto como um filme a partir da perspectiva da saúde mental, com uma construção de personagem muito fidedigna e representativa da condição mental de alguém que sofre de distúrbios, brilhantemente trazida pelo ator Joachim Phoenix, diga-se de passagem. Pode também ser considerado uma montagem cinematográfica sobre a história de um personagem, para aqueles que são fãs e leitores de quadrinhos. Ou, ainda, pode nos levar a refletir sobre as perspectivas sociais e políticas, tratadas brevemente a seguir. O objetivo não é fazer “spoiler” do filme (não descrevo aqui, nenhuma situação específica) mas propor reflexões a partir das situações vividas pelo personagem principal.
As relações e condições de trabalho, cada vez mais precárias e escassas, levam o indivíduo a adoecer mentalmente, a sofrer de síndromes que se manifestam com mais frequência, geradas por situações de estresse extremo. Muito fiel às condições do trabalho atuais, dada a precarização das condições no que tange aos vínculos de trabalho, salários, bem como dos direitos trabalhistas e previdenciários.
O sistema de saúde – setor fundamental, bem como a educação – que atende aos seus cidadãos de maneira cada vez mais precária, sofrendo com os cortes de recursos, levando à suspensão de serviços e distribuição de medicamentos, deixando-os desassistidos em direitos que deveriam ser garantidos a todos. No contexto brasileiro, observamos os cortes e congelamentos de verbas em áreas como a educação e a saúde, bem como o desmantelamento de programas que buscavam atender regiões distantes dos grandes centros urbanos e de difícil acesso.
A corrupção grassa na sociedade representada pelo filme, com políticos prometendo soluções para a população, mas cujas ações são voltadas em prol de seus próprios interesses e das elites sociais das quais fazem parte. Nada diferente da nossa realidade! As elites de poder se comportam como se as mazelas que atingem a população, como a violência por exemplo, jamais pudessem chegar até eles…
O filme nos traz o retrato de uma sociedade corrompida, com o cidadão comum sofrendo com a violência impingida pelo Estado, que deveria protegê-lo, cuidar de suas necessidades e oferecer condições mínimas para que esse cidadão tivesse os seus direitos fundamentais garantidos. Há violência e intolerância entre os cidadãos também que manifestam pouca ou nenhuma empatia com o outro, exercendo atos de violência e agressão gratuitas. Vide, no mundo real, a violência da indiferença, da invisibilidade e da intolerância com os problemas do outro, com as dificuldades que afetam o outro, disseminando frequentemente o ódio.
Além de nos proporcionar entretenimento, o cinema nos provoca para que possamos refletir sobre o que vemos cotidianamente nos noticiários e na vida real, a estabelecer correlações e buscar saídas para o enfrentamento das crises observando as experiências bem-sucedidas, onde quer que elas existam.
No caso de Joker, o vislumbre de uma saída ou de mudança no cenário vigente é controverso, porque trazido pelo personagem principal, entendido a partir de seu surto como um vilão… Mas a esperança deve existir e resistir sempre, por mais sombrios que os cenários se apresentem para nós.
Em nosso programa de pesquisa, estimulamos a apreciação da arte como uma ferramenta de educação. Trabalhamos para formar lideranças que se posicionem e realizem o enfrentamento dos problemas cotidianos, transformando a realidade para que tenhamos um mundo melhor, mais inclusivo, mais igualitário e mais justo.
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