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DESENVOLVIMENTO HUMANO, FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS TRANSFORMADORAS E GOVERNANÇA SOCIAL
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A arte para refletir

A arte, forma absoluta de resistência em todos os tempos, fonte de inspiração e esperança para todos. Tratemos dela em sua forma cinematográfica! Joker é um filme que pode ser analisado em muitos aspectos. Pode ser visto como um filme a partir da perspectiva da saúde mental, com uma construção de personagem muito fidedigna e…

Claudia Gonçalves

A arte, forma absoluta de resistência em todos os tempos, fonte de inspiração e esperança para todos. Tratemos dela em sua forma cinematográfica!

Joker é um filme que pode ser analisado em muitos aspectos. Pode ser visto como um filme a partir da perspectiva da saúde mental, com uma construção de personagem muito fidedigna e representativa da condição mental de alguém que sofre de distúrbios, brilhantemente trazida pelo ator Joachim Phoenix, diga-se de passagem. Pode também ser considerado uma montagem cinematográfica sobre a história de um personagem, para aqueles que são fãs e leitores de quadrinhos. Ou, ainda, pode nos levar a refletir sobre as perspectivas sociais e políticas, tratadas brevemente a seguir. O objetivo não é fazer “spoiler” do filme (não descrevo aqui, nenhuma situação específica) mas propor reflexões a partir das situações vividas pelo personagem principal.

As relações e condições de trabalho, cada vez mais precárias e escassas, levam o indivíduo a adoecer mentalmente, a sofrer de síndromes que se manifestam com mais frequência, geradas por situações de estresse extremo. Muito fiel às condições do trabalho atuais, dada a precarização das condições no que tange aos vínculos de trabalho, salários, bem como dos direitos trabalhistas e previdenciários.

O sistema de saúde – setor fundamental, bem como a educação – que atende aos seus cidadãos de maneira cada vez mais precária, sofrendo com os cortes de recursos, levando à suspensão de serviços e distribuição de medicamentos, deixando-os desassistidos em direitos que deveriam ser garantidos a todos. No contexto brasileiro, observamos os cortes e congelamentos de verbas em áreas como a educação e a saúde, bem como o desmantelamento de programas que buscavam atender regiões distantes dos grandes centros urbanos e de difícil acesso.

A corrupção grassa na sociedade representada pelo filme, com políticos prometendo soluções para a população, mas cujas ações são voltadas em prol de seus próprios interesses e das elites sociais das quais fazem parte. Nada diferente da nossa realidade! As elites de poder se comportam como se as mazelas que atingem a população,  como a violência por exemplo, jamais pudessem chegar até eles…

O filme nos traz o retrato de uma sociedade corrompida, com o cidadão comum sofrendo com a violência impingida pelo Estado, que deveria protegê-lo, cuidar de suas necessidades e oferecer condições mínimas para que esse cidadão tivesse os seus direitos fundamentais garantidos. Há violência e intolerância entre os cidadãos também que manifestam pouca ou nenhuma empatia com o outro, exercendo atos de violência e agressão gratuitas. Vide, no mundo real, a violência da indiferença, da invisibilidade e da intolerância com os problemas do outro, com as dificuldades que afetam o outro, disseminando frequentemente o ódio.

Além de nos proporcionar entretenimento, o cinema nos provoca para que possamos refletir sobre o que vemos cotidianamente nos noticiários e na vida real, a estabelecer correlações e buscar saídas para o enfrentamento das crises observando as experiências bem-sucedidas, onde quer que elas existam.

No caso de Joker, o vislumbre de uma saída ou de mudança no cenário vigente é controverso, porque trazido pelo personagem principal, entendido a partir de seu surto como um vilão… Mas a esperança deve existir e resistir sempre, por mais sombrios que os cenários se apresentem para nós.

Em nosso programa de pesquisa, estimulamos a apreciação da arte como uma ferramenta de educação. Trabalhamos para formar lideranças que se posicionem e realizem o enfrentamento dos problemas cotidianos, transformando a realidade para que tenhamos um mundo melhor, mais inclusivo, mais igualitário e mais justo.

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  • Inspiração:
    John Quincy Adams

    Se suas ações inspiram as pessoas a sonharem mais, aprenderem mais, fazerem mais e se tornarem mais, você é uma liderança.

5 respostas

  1. Avatar de Gabriela Costa

    Após a leitura desse post estou ainda mais curiosa e animada para assistir o filme. Maravilhoso ver como a arte pode contribuir para nossas reflexões, nos animando, encorajando, despertando e como dito por você, educando. Obrigada pela análise!
    Humor: pensativa/o.

  2. Avatar de Gabriel Valuano

    Adorei como você entrelaçou os temas. Para além de uma descrição crítica e precisa do filme e do que de mais concreto ele representa, saúda a arte e os artistas em questão, finalizando com o foco no PEP ao trazer as luzes do cinema para a nossa realidade, como uma ponte de inspiração que tem seus impactos e virtudes contemplados no programa e em sua visão de mundo. Bravo! Obrigado por compartilhar e inspirar!
    Humor: coletiva/o.

  3. Avatar de Anderson Penavilla

    Ao assistir o filme, me senti afetado por várias coisas, primeiramente, a ausência do estado na saúde, na educação e na segurança. Isto o filme mostra impecavelmente. Em seguida como Joker é constituído pela própria sociedade. Muitas vezes o filme me fez de lembrar do documentário Onibus 174, com uma diferença: Sandro foi um caso real e Joker uma ficção, nesse caso a realidade veio primeiro que a ficção. É notória a falta de empatia da população.
    Humor: pensativa/o.

  4. Avatar de Ricardo Rohm

    A arte faz refletir. Pode tornar a realidade um respiro de ficção, pode tornar a ficção um projeto de realidade, alterando-a, e pode ainda substituir, com intensidade e beleza, muitas vezes, o que a dureza e a dor vividas não nos podem oferecer como bálsamo, acalanto. A arte acalanta e acalma os espíritos tensos e angustiados, mas também pode fazer desperto e engajado o jovem, ativo e protagonista da mudança de sentido no mundo, reinventando-se também nele. Nela o sujeito se dissolve e se reencontra sob novas formas e sensações, experimenta o além-da-vida e mesmo o que se anuncia também aquém dela.

    Assim, quando a vida vivida parece vegetativa, ou pungente e dolorida de tantos males absurdos e perversos, no leito de uma sociedade cruel, fria, excludente, persecutória e triste, surge uma personagem transformadora e que se descobre nos limites , nas bordas do intolerável. Se era antes mais uma das vítimas dos algozes deste mundo de nosso tempo, inunda-se pela dor e dela brota a clarividência incontida para agir, para se proteger, para lutar, sobreviver, e mais, responder pelo exemplo radical de posicionamento e enfrentamento de seus inimigos, reinventando-se no mundo e esculpindo nele as marcas de sua existência, agora indiscutivelmente visíveis aos olhos de todos. O Coringa!

    De inusitada estética, surpreendente enredo, inovadora interpretação, o Coringa é o espelho de milhões e milhões de seres deste mundo – de não cidadãos de fato nem de direito! – descritos e tornados visíveis pela lente e pelos ruídos da mais dura poesia, na mais cruel das imagens e na redenção libertadora, que ao fim do filme, ainda detido pelas polícias dos loucos, permanece livre e autor de sua real história.

    A arte faz refletir e pode fazer agir. O Coringa já nasceu um clássico, mas um clássico absolutamente rizomático, de respiração arritimada, de coração esmagado e que se escorre noutros órgãos e sentidos, anunciação mesma, diante do caos da existência, de desconcertante profecia!
    Humor: deslumbrada/o.

  5. Avatar de Marcelo Canesin

    Obrigado por compratilhar suas reflexões sobre o filme e a arte Claudine. Esta semana consegui, enfim, ir ao cinema ver o Joker.

    Como você bem pontuou, a arte é uma fonte de esperança e inspiração, ainda mais quando é uma obra tão bem feita como o Joker.

    Sociedade doente, cidadão que não tem atendimento, leis ultrapassadas pela corrupção que grassa e a resposta popular é uma fórmula que vem sendo discutida há milênios. Estou lendo a Antígona (escrita por Sófocles 400 A.C.) e vejo que há um ciclo girando em torno do debate sobre a ética que parece que nunca terá fim (ainda bem).

    No Joker, fica nítida a crítica ao neoliberalismo, e ao comportamento dos grandes empresários em relação ao sofrimento dos desfavorecidos. Um sentimento que representa sem dúvida a realidade que vivemos e que foi maravilhosamente interpretado pelo ator Joachim Phoenix.

    O que deixa mais orgulhoso no filme e justifica a minha consideração tão positiva é o jogo encenado, entre o bem e o mal, misturado num enredo nada lógico muito menos racional. O diretor nos trouxe um remédio em forma de Arte muito inspirador e catártico. Como Mestre escreveu: “um respiro de ficção”… De tirar o fôlego!
    Humor: pensativa/o.

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