PROGRAMA DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
DESENVOLVIMENTO HUMANO, FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS TRANSFORMADORAS E GOVERNANÇA SOCIAL
Minerva UFRJ 2021

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“Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo. Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso”

O terceiro texto de Frases Rohmânicas é um texto produzido em colaboração com Gabriel Valuano. Neste texto compartilhamos parte do aprendizado que Mestre nos oferece ao refletirmos acerca da frase “Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo. Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso”,…

Frase 8

No segundo texto de Frases Rohmânicas e nós, descobrimos que se não estamos no controle do nosso corpo, alguém ou alguma coisa está. Na busca do controle de si podemos perceber que muito de quem nos tornamos ao longo dos anos serve a interesses alheios. É necessário autoconhecimento para que todos os dias haja reinvenção. A mente humana, entretanto, quando condicionada a determinadas ilusões, tende a resistir a mudanças. Inicia-se, portanto, uma luta cotidiana contra si.

A sociedade funciona sob uma moral burguesa que atende aos interesses capitalistas. Nossos desejos, nossos sonhos, aquilo que acreditamos ser possível ou não, é determinado pelos donos do poder, porque as pessoas precisam aprender a viver de maneira que sustente o sistema criado por eles. Sofia e Sara escreveram um texto sobre o filme Metropolis. Este filme pode nos ajudar a entender muitas coisas, principalmente como as pessoas são transformadas em ferramentas para a máquina de reprodução do capital. Uma das frases que mais me chamou atenção foi “As mãos que construíram a torre de babel não conheciam o sonho do cérebro que a planejou”. Os operários fazem a cidade funcionar, mas eles são apenas mãos, mãos não têm sonhos próprios.

Ao conhecer Mestre Rohm, que questionou comportamentos e objetivos, foi possível iniciar essa jornada a fim de compreender o que buscamos e a que servimos. Aprendi que uma das prisões do capital, contudo, é a ideologia da impotência. Não me sentia capaz de ir além daquilo que o sistema permite, mas Mestre, que acredita no meu potencial e é um exemplo de que a transgressão é possível, me inspira na luta diária que travo contra mim e contra minhas ilusões.

Ação, lembrança e gratidão

Ao pesquisar sobre Gurdjieff, é possível encontrar alguns sites que hospedam diversas frases deste Mestre. Em um destes sites encontra-se a seguinte frase “Para o homem a mais alta realização é ser capaz de fazer.”, que será acompanhada por algumas frases a seguir desta:“Quanto piores as condições de vida, melhores serão os resultados do trabalho – contanto que nos lembremos continuamente do trabalho. / Lembre-se de você mesmo, sempre e em toda parte. / Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo. /Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.

Acho que o que podemos aprender com Mestre Rohm a partir do estímulo da frase de Mestre Gurdjieff é justamente sobre o porquê das coisas. Todos esses porquês que você trouxe neste e-mail que tanto nos inspiram à reflexão. Todos os porquês que Mestre nos oferece com tanta generosidade em seus cursos, no PEP, no dia-a-dia, na convivência. Todos os porquês levantados em uma leitura do Caminho do Guerreiro Pacifico, da Doutrina do Choque, ao lermos Psicopolítica de Han ou a Elite do Atraso de Jessé. Por quê, afinal, eu digo isso? Porque se “Para o homem a mais alta realização é ser capaz de fazer.” como afirma Mestre Gurdjieff, eu vejo nesta afirmação a disciplina do “fazer” que é necessária ao Guerreiro para ser Guerreiro, mas é um fazer de um Guerreiro Pacífico. Este guerreiro, que “antes” de “fazer” as coisas para os outros precisa se voltar para si próprio, em um processo de reflexão introspectiva e honesta sobre quem ele é, o que ele busca e a que(m) ele serve, exercendo a coragem de abrir mão de suas ilusões que deverão ser substituídas pela consciência, esta que será despertada a partir da relação com um Mestre. O despertar da consciência veio, no caso de Dan Millman, dos questionamentos de seu Mestre?

Quando Mestre Gurdjieff continua e diz: “Quanto piores as condições de vida, melhores serão os resultados do trabalho – contanto que nos lembremos continuamente do trabalho.”, o que você entende? Eu vejo explicitamente a disciplina do trabalho sendo escancarada como a realização que vem da capacidade do fazer. Este “trabalho”, a meu ver, poderia ser substituído pelo “projeto de vida”. Mestre Rohm sempre nos fala sobre a nossa capacidade, sempre nos estimula a acreditarmos que podemos ser melhores, nos tornarmos seres humanos melhores, e que a resposta à pergunta “Como se tornar uma pessoa melhor?” está justamente no servir. Acontece que Mestre não nos dá essa resposta em palavras, mas sim no exemplo. É demonstrando a realização da capacidade de fazer a transformação, de proporcionar essa realização aos outros que Mestre exerce a sua liderança transformadora que tanto nos inspira. Quando eu vejo esta frase sobre o trabalho de Mestre Gurdjieff, vejo Mestre Rohm agindo, criando o PEP, acreditando no potencial de tantas pessoas incríveis, mas que até encontrá-lo não se viam como tais e se conheciam tão pouco, ou quase nada. Mestre é esse brilho que nos traz a vontade de se tornar melhor, de compartilhar esse desenvolvimento com as demais pessoas. E é muito mais a disciplina e o posicionamento da resposta que contam do que propriamente os “resultados”, em si. É o caminho que importa e cada um tem o seu caminho, partindo de seu lugar que lhe é específico e que lhe oferece dificuldades particulares. E é ai que vem, pra mim, o seguinte trecho: “Lembre-se de você mesmo, sempre e em toda parte.”. Como enfrentar tantas dificuldades, como nos defrontaríamos com nós em nossas solidões e em momentos de fragilidade, não fosse o esforço continuado de resgatar o sentido em nossos projetos de vida, em nosso propósito? Eu vejo nesse trecho a cobrança generosa a que Mestre sempre se refere, à orientação para que não nos comparemos às outras pessoas, pois nós devemos lembrar de que cada um tem o seu caminho, o seu tempo e ninguém está atrasado. Nos momentos de confusão, lembremos de nós mesmos, que é, na minha visão, a mesma coisa que lembrar de nossos Mestres, de Mestre Rohm, de pessoas que nos são queridas e importam.

Finalmente, após peregrinar por esse caminho de reflexão que você generosamente me convidou a trilhar, cheguei em “Lembre-se de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo. /Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.”. Quantos estímulos e pensamentos. Gosto da percepção de que a primeira frase diz respeito à capacidade de fazer: é assim que se inicia o ensinamento de Mestre Gurdjieff. É o doing, o ativismo, a transformação da liderança que faz o que é necessário. Em seguida, em todas as frases, eu percebo a permanência da lembrança, do lembrar como ato de manutenção do foco e da disciplina; o lembrar como a disciplina do cuidado de si em direção ao aumento de nossas potências e do nosso desenvolvimento, da nossa capacidade de fazer, mas não apenas isso: de fazer pelos outros, pois, como Mestre Rohm sempre nos lembra, nós sempre dependeremos da bondade de um estranho. Diante dessa lembrança, é importante lembrar que as outras pessoas dependem também de nossas bondades e trabalhos. Esse é o caminho que nos leva até a última frase, em que se resgata a memória do porquê de termos percorrido jornadas que nos trouxeram até onde estamos hoje, aqui e agora; qual foi e qual é o sentido dessa jornada para nós? Mestre Gurdjieff resgata, novamente, a importância da lembrança, mas agora como forma de se aprimorar o foco e de se exercitar a disciplina. Nós viemos até aqui. Por quê? Por que passar por tudo o que passamos? Mestre Rohm nos leva a essa reflexão constantemente, quando nos lembra do papel das Universidades, quando nos ensina o nosso papel e nossa responsabilidade como estudantes dessa Universidade, quando nos orienta ao aprimoramento do foco com mentoria no PEP e em nossas pesquisas, quando nos desafia a fazer projetos e coisas que nem nós mesmos acreditamos sermos capazes de fazer. É então que lembramos o porquê de estarmos onde estamos, das decisões que tomamos, e de que acreditamos em Mestre. Se acreditarmos em Mestre, o lutar contra si fica muito mais fácil, pois assim temos apoio. Pois dessa maneira a gente não apenas luta contra si, mas principalmente a favor de algo maior, belo e que nos dá sentido. E é ai que eu me deparo com a segunda parte da última frase: “Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.”. Aqui é a epifania! É com a gratidão que se encerra este ensinamento que Mestre nos ofereceu no site. Não apenas no site, mas em todas as circunstâncias, Mestre sempre nos fala e demonstra a importância de reconhecermos as pessoas com quem convivemos, reconhecermos os seus esforços, o apoio, o trabalho de cada pessoa e a importância de cada um em uma visão mais holística do todo, do conjunto da obra. É aqui que eu vejo quando Mestre nos fala sobre o Legado dos Mestres, sobre agradecer a quem veio antes de nós por ter feito o que fizeram. É reconhecer e agradecer as dores dos outros, o que cada um teve que passar para que pudéssemos estar onde estamos. Ou seja, ao se constatar a circularidade do tempo e como as nossas vivências estão o tempo todo sendo atravessadas por diversas energias, o “fazer” com que se começa este ensinamento é o mesmo fazer com o qual se termina. Ambos são fazeres, ambos são demonstração de gratidão. Demonstrar gratidão é fazer pelo outro, lembrando de si, do sentido que você vê nas coisas, de seu projeto de vida, o qual incluirá os outros e reconhecerá a importância e a contribuição das pessoas para que você continue fazendo o seu trabalho. Ser grato ao Mestre e reconhecer todo o seu esforço e doação em nos oferecer o que há de melhor para nosso desenvolvimento, dedicando tanto tempo e energia para isso, é uma forma de viabilizar os nossos projetos de vida e de nos alinhar ao nosso propósito. Me lembro também com isso tudo sobre a importância da integridade para a liderança transformadora. Falo, faço, penso, sou.

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  • Inspiração:
    Ricardo Rohm #4

    O guerreiro pacífico, até em sua vulnerabilidade, está sempre em movimento, no “DOING”. E sempre se qualificando mais para ousar mais e fazer mais. Porque o fazer do ensinamento reside sempre na sabedoria de não deixar de fazer.

3 respostas

  1. Avatar de Ricardo Rohm

    “” Ao se constatar a circularidade do tempo e como as nossas vivências estão o tempo todo sendo atravessadas por diversas energias, o “fazer” com que se começa este ensinamento é o mesmo fazer com o qual se termina.”” Pungente, rico, esclarecedor e maduro é o texto de Gabriela e Gabriel!
    Um convite sério à gratidão: mas não àquela destes tempos de narrativas espetaculares acerca da promoção de si mesmo, ou do “politicamente correto”, mas SIM a gratidão permanente do FAZER, do SERVIR e do APREENDER A SER sempre melhor do que si mesmo. Gratidão que ae expressa como desejo de mais potência face às fraquezas do caráter, às tentações frívolas do consumo alienado e veloz. Gratidão que emerge nos momentos de dúvida, cansaço ou vacilo, e que nos move a continuar a FAZER para que nos reencontremos neste próprio fazer!
    “Lembrar-se de si mesmo sempre e em todos os lugares”, como refletia e praticava Gurdjieff no Château du Prioré nas imediações de Fontainebleau, junto a seus alunos e amigos, não deve significar qualquer ideia de egocentrismo ou isolamento meditativo antes da ação: porque a circularidade do tempo não permite pausas longas diante de um mundo que precisa de tantas ações virtuosas, de tantas mudanças de perspectiva, de novas respostas aos desafios que estão postos à vida digna, e contra toda forma de arbítrio e opressão. O ciclo do FAZER e do SERVIR não podem parar ou esperar pela paz interior sonhada, como se pudera ser pré condição do FAZER virtuoso! O guerreiro pacífico, até em sua vulnerabilidade, está sempre em movimento, no “DOING”! E sempre se qualificando mais para ousar mais e fazer mais! Porque o fazer do ensinamento reside sempre na sabedoria de não deixar de fazer!

  2. Avatar de Marcelo Canesin

    As lições que aprendemos com o Mestre são únicas e muito valiosas, se não acreditarmos nelas, ou se não levarmos a sério, de que valem? De que vale todo esforço que tantos fizeram para chegarmos onde chegamos, se não valorizarmos o que foi feito? Ora, o nosso fazer, é o ‘fazer do fazer’, sempre, já que não surgimos do além. Resta-nos… aprender a reconhecer essas ações, pois sem elas não nos tornaríamos o que nos tornamos, lembrar delas, para sermos pessoas melhores, retribuir com gratidão aos que nos ensinam, e fazer. Não há nada que esteja além de nossos Mestres! Foi muito interessante ler as relações que fizeram entre os Mestres Rohm e Gurdjieff. Muito obrigado por este lindo texto Gabriel e Gabriela!

  3. Avatar de Sofia Xavier

    Depois de alguns meses e muitas leituras do texto de vocês, despertaram em mim algumas reflexões, que trago aqui para que possamos pensar e aprimorar juntos: o que é a mudança de si? O que significa se reinventar? Pensar diferente é mudança? E falar diferente? Acho que, hoje, vejo essas duas mudanças como inícios, constatações que nos servem para perceber o que antes não queríamos ver em nós mesmos. Mas a partir dessas constatações, se não há mudança de comportamento, se não existem ações diferentes que revelem ao outro essa mudança interior, então será que houve, de fato, mudança? Mais importante do que ser para si é ser para o outro, servir ao outro. Portanto, mudar por dentro e não externalizar o aprendizado com ações é mudar para si, servir a si, continuar atendendo aos próprios interesses e mantendo a ilusão de que nada mudou – para mim e para os outros. Se só eu sei que mudei, como demonstro gratidão? Se meu Mestre não vê a mudança em mim porque eu não a coloco em ações, cadê a gratidão? Ontem, conversando com Gabriel (6 meses depois da escrita desse texto), chegamos ao ponto em que entendemos que, muitas vezes, temos medo de mudar nossos comportamentos porque isso significaria afirmar que antes estávamos errados. E estar errado fere nosso orgulho. Mas então a mudança depende do nosso foco, da nossa prioridade: é mais importante seguir “igual” para não revelarmos ter percebido a fragilidade e fraqueza do nosso caráter; ou demonstrar gratidão à pessoa que nos mostrou essa fraqueza e nosso potencial em vencê-la?
    No segundo caso, começa a luta contra si, que demanda a lembrança e a disciplina para que possamos continuamente ferir nosso próprio orgulho em prol do outro, de nossos Mestres, demonstrando gratidão quando conseguimos vencer a nós mesmos. Vencendo a nós mesmos, superamos os desafios e dúvidas porque escolhemos, cada vez mais vezes, servir ao outro, e não a nós mesmos, como prioridade.
    Que o medo de nos mostrarmos errados em momentos anteriores ao agirmos de forma diferente agora não nos pare, mas nos mova para que possamos, cada vez mais e melhor, lembrar de nós mesmos, dos nossos Mestres, e de que demonstrar a gratidão é, como Mestre ressaltou, nunca deixar de fazer.

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